Comportamento Agressivo na Infância: Como lidar? -

Comportamento Agressivo na Infância: Como lidar?

14 de outubro de 2019

Comportamento Agressivo na Infância: Como lidar?

 

Na prática clínica observa-se um número crescente de pais que chegam ao consultório com a queixa principal de que o filho está tendo problema relacionado à “agressividade”, tanto no âmbito familiar, quanto no âmbito escolar.

Geralmente, nas entrevistas de avaliações são observadas verbalizações, tais como: “não sei mais o que fazer com o meu filho”, “ninguém dá conta dele”, “não aguento mais”, “já fiz tudo que podia”.

Os professores chamam os pais na escola e alegam que não conseguem auxiliar essas crianças a lidarem com os seus comportamentos impulsivos.

Os pais alegam que a escola não quer dar o devido suporte para as crianças.

Os psicólogos são chamados para auxiliar na resolução do problema.

Mas, afinal, o que fazer?

Diversos autores como concordam em definir o comportamento antissocial, como agressivo, como aquele com intenção de causar dano à outra pessoa.

Geralmente, quando a criança apresenta o comportamento agressivo, este surge associado a outros, tais como: isolamento social, rompimento de normas, comportamento opositivo, destrutividade e também agressão aos outros.

Observa-se ainda que quando a criança apresenta o comportamento agressivo ela passa a vivenciar sentimentos de rejeição tanto na escola, quanto na família e isso faz com que o quadro se agrave.

comportamento agressivo

 

Comportamentos antissociais decorrem de uma multiplicidade de fatores que interagem e potencializam efeitos negativos a curto, médio e longo prazo, caracterizando uma trajetória de risco. Em curto prazo, podem gerar rejeição dos colegas e dos adultos, baixo rendimento acadêmico ou indisciplina. A médio e longo prazos, tais comportamentos podem aumentar a probabilidade de fracasso escolar, evasão, delinquência, drogadição, alcoolismo, participação em gangues, criminalidade e, finalmente, dependência das instituições sociais de assistência e maiores taxas de morte e doença.

Comportamento Agressivo na Infância

Isso fica evidente no contexto clínico, pois a maioria dos pais alegam não aguentar mais a convivência com a criança tida como agressiva, inconscientemente começam a rejeitá-la, sob a alegação de não saber mais o que fazer. O mesmo frequentemente acontece no contexto escolar, tendo em vista que professores e equipes de orientação pedagógica afirmam tentar de tudo e justificam que não podem permitir que o aluno estigmatizado como “o difícil”, ou “agressivo” prejudique o andamento do bom funcionamento do restante da turma ou que os demais coleguinhas fiquem assustados com as atitudes do amiguinho que bate, grita, empurra.

A situação realmente aparenta ser difícil para todos, pois, de fato todos os atores envolvidos demonstram sofrimento por não saber lidar com o caso. Não temos como afirmar quem sofre mais, por isso, acredita-se que o principal é acolher a demanda de todos e juntos assumir o compromisso de resolver o problema. O objetivo principal é evitar o “jogo de empurra”, no qual todos querem justificar sua incapacidade de lidar com a situação e empoderar cada um dos atores de maneira que passem a visualizar que possuem papel importante na superação do comportamento agressivo da criança.

Acredita-se que a agressividade está associada a vários problemas no desenvolvimento infantil, com evidências de correlação inversa com a empatia que é vista como um possível inibidor de tais comportamentos.

Tem-se observado que o desenvolvimento da empatia é uma das habilidades sociais que mais tem se mostrado efetiva na diminuição dos comportamentos agressivos.

Habilidade Social: Empatia

Na perspectiva cognitivista, a empatia pode ser atualmente definida, como a capacidade de apreender sentimentos e de identificar-se com a perspectiva do outro, manifestando reações que expressam essa compreensão e sentimento. Logo, ao analisar o conceito de empatia infere-se que o déficit desta habilidade social contribui diretamente no surgimento e fortalecimento do comportamento agressivo.

É interessante observar que a empatia se diferencia de outras habilidades sociais, como por exemplo, a assertividade, definida como a capacidade de defender os próprios direitos e de expressar pensamentos, sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa.

Percebe-se que o desenvolvimento da empatia possui relação direta com o grupo familiar que a criança está inserida, pois o desenvolvimento ocorre desde a tenra idade, e que ambientes familiares hostis, com pais negligentes, com presença de violência, gritos, agressão física ou verbal, contribuem para o fortalecimento do comportamento agressivo nas crianças e redução da emissão dos comportamentos empáticos.

Observa-se, ainda, que o ambiente escolar também possui influência direta no desenvolvimento tanto da empatia, quanto da agressividade.

As autoridades, famílias e sociedade deveriam entender o sistema educativo não apenas como um local no qual a criança pode ter acesso ao conhecimento, mas também um local no qual podem ser desenvolvidas as competências psicossociais das crianças, de maneira que elas possam ser inseridas ao meio social de forma mais saudável e assertiva.

Habilidades Sociais e Competências Socioemocionais

Acredita-se que, quando a criança passa a conviver com novos grupos sociais, como por exemplo, a escola, ela passa a ter a possibilidade de ampliar suas habilidades aprendidas inclusive em seu ambiente familiar. Todavia, os comportamentos aprendidos com a família é um importante fator que poderá definir o sucesso ou o fracasso das relações sociais da criança, seja com as pessoas que convive seja com os professores ou outros.

Desenvolver habilidades sociais e competências socioemocionais na infância é mais favorável do que na fase adulta, tendo em vista que as crianças são mais flexíveis e mais maleáveis para a mudança de comportamento. Logo, trabalhar preventivamente nesta faixa etária é significativamente importante.

Existem amplas evidências de que crianças socialmente habilidosas apresentam menores índices de comportamentos indesejáveis e melhor desenvolvimento socioemocional. O que justifica a implantação de programas educacionais que visem o desenvolvimento de competências socioemocionais e o treinamento de habilidades sociais.

Entende-se como habilidades sociais, aquelas que:

Dizem respeito a comportamentos necessários a uma relação interpessoal bem-sucedida, conforme parâmetros típicos de cada contexto e cultura, podendo incluir os comportamentos de iniciar, manter e finalizar conversas; pedir ajuda; fazer e responder a perguntas; fazer e recusar pedidos; defender-se; expressar sentimentos, agrado e desagrado; pedir mudança no comportamento do outro; lidar com críticas e elogios; admitir erro e pedir desculpas e escutar empaticamente, dentre outros.

desempenhando uma relação interpessoal

Além desses, é importante que a pessoa consiga construir um repertório de comportamentos não verbais, cognitivo-afetivo, fisiológico, aparência pessoal e de atração física de forma saudável.

O comportamento agressivo associado à dificuldade com o manejo social agrava a situação da criança que apresenta impulsos de agressividade e, geralmente, o comportamento agressivo está relacionado a modelos parentais, à história de vida da criança e a sua situação escolar.

Existem evidências crescentes de que o fortalecimento dos comportamentos agressivos, associado às dificuldades relacionadas ao manejo das habilidades sociais estão correlacionados com o fraco desempenho escolar, a delinquência, ao uso abusivo de drogas, a crises conjugais e familiares e a desordens emocionais diversas.

Interessante observar as classes de habilidades sociais relevantes na infância, tais como: o autocontrole e a expressividade emocional, as habilidades de civilidade, a empatia, a assertividade, a solução de problemas interpessoais, o ato de fazer amizades e as habilidades sociais escolares.

Quando a criança consegue estabelecer essas habilidades, automaticamente passa a ter maiores chances de receber reforçadores sociais importantes, tais como: a amizade, o respeito, a participação e a aceitação no grupo, ou seja, uma convivência no dia-a-dia de forma mais saudável. Percebe-se que isso diminui a possibilidade de surgimento do comportamento agressivo.

Acredita-se, ainda, que um repertório social empobrecido aumente as chances de surgimento de problemas emocionais internalizantes ou externalizantes, Saiba que os comportamentos internalizantes são aqueles evidenciados por retraimento, depressão, ansiedade e queixas somáticas e os externalizantes são os marcados por impulsividade, agressão, agitação, características desafiantes e antissociais.

Observa-se que o número de casos de crianças que apresentam comportamento agressivo vem aumentando gradativamente, muitos tem associado o problema a dificuldade nas relações parentais, a tecnologia, a baixa rede social e a dificuldade nas relações interpessoais, e é notório que cada vez mais as famílias estão procurando a psicoterapia como estratégia de tratamento para esta demanda.

Intervenções da Terapia Cognitivo Comportamental – TCC no manejo do comportamento agressivo

A Terapia Cognitivo Comportamental – TCC possui protocolos de tratamentos para crianças que apresentam problemas comportamentais, especialmente os ligados a Transtornos de
Comportamento Disruptivo, Transtornos de Conduta, Transtorno Opositor Desafiador, e problemas comportamentais de maneira geral, que não necessariamente chegam a ser diagnosticados como transtornos. Percebe-se, ainda, que a raiva seja outro fator

associado ao comportamento impulsivo.

Analisamos algumas propostas interventivas de maneira a reforçar as evidências positivas das técnicas da TCC e Comportamentais no manejo de comportamentos agressivos, tais como: Promoção da empatia como prevenção ao desenvolvimento da agressividade; Treinamento de habilidades sociais, como estratégia inibidora da agressividade; Desenvolvimento de competências socioemocionais, especialmente para a gestão da raiva; Técnicas de resolução de problemas; Psicoeducação sobre restruturação cognitiva, sobre Registro de Pensamentos Disfuncionais – RPD e sobre Questionamento Socrático; além do treinamento de pais.

Percebe-se que a TCC tem eficácia, pois tem como objetivo promover avaliações realistas e adaptativas dos fatos da vida em lugar de distorções, utilizando uma abordagem colaborativa psicoeducacional de tratamento, na qual experiências de aprendizagens específicas visam ensinar os pacientes a monitorar os pensamentos automáticos; reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; testar a validade dos pensamentos automáticos, substituir os pensamentos distorcidos por cognições mais realistas; identificar e alterar as crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes aos padrões errôneos de pensamentos colaborando para reestruturação cognitiva da criança.

Terapia Cognitivo Comportamental – TCC INFANTIL

O interesse pela psicoterapia infantil vem crescendo nos últimos anos, tanto pelos pais, quanto pelos educadores e profissionais da área. Tal crescimento tem sido observado especialmente na esfera da promoção e prevenção da saúde. Pois, observa-se que atuando de forma preventiva, temos grande chance de evitar o surgimento de psicopatologias na vida adulta.

Apesar da estrutura da clínica da TCC infantil ser análoga a do adulto, existe grande diferença, tendo em vista que as técnicas devem ser adaptadas e também se deve utilizar de recursos lúdicos, tais como: brinquedos, desenhos, massa de modelar, fantoches e outros. Pois, por meio desses recursos o terapeuta consegue interagir com a criança de maneira que ela traga os conteúdos a serem trabalhados na psicoterapia infantil.

O psicoterapeuta deve ainda manter uma relação muito próxima com os pais, professores e outros do convívio da criança, pois, somente assim garantirá a troca de informações, necessárias para a construção da conceitualização cognitiva e hipótese diagnóstica do caso.

Importante ressaltar que a Terapia Cognitivo Comportamental vem avançando empiricamente e sua atuação com o público infantil tem demonstrado cada vez mais validação empírica. A cada dia mais pesquisas e publicações surgem, validando a atuação da TCC com as crianças, o que tem tornado essa abordagem como uma das mais indicadas a ser trabalhada tanto preventivamente, quanto interventivamente, para os mais diversos tipos de transtornos, por profissionais que lidam com Saúde Mental, especialmente a infantil.

Abraços,
Sissi Mara Alves – Psicóloga Infantil – CRP: 01/13970

@clubinhodasemocoes

 

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Todos Comentários (22)
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    12 de junho de 2022 at 19:38

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  • Teste IPTV
    27 de dezembro de 2023 at 11:14

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  • Filmes Dublados
    31 de dezembro de 2023 at 11:07

    Conteúdo excelente! Muito bem elaborado, rico em detalhes e extremamente envolvente. Parabéns pelo material de alta qualidade, é informativo e inspirador.

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  • clubinhodasemocoes
    @Clinica de Recuperação
    12 de junho de 2021 at 17:02

    Obrigada por compartilhar.

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  • clubinhodasemocoes
    @clinica de recuperação
    12 de junho de 2021 at 17:05

    Obrigada.

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